terça-feira, 28 de outubro de 2008

Para os do 35mm...

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Visão “humana” e visão “fotográfica”
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A comparação muito fácil entre o olho e a máquina fotográfica, está na origem de vários erros. A simples observação, não das semelhanças mas no contrário, nas diferenças que distinguem a visão humana da visão fotográfica, basta para explicar as causas de alguns fracassos. Antes de mais, o olho, por si só, não vê. Limita-se a compor na retina uma sucessão contínua de imagens primitivas, sem dúvida opticamente sinceras, mas a sofrerem contudo, os efeitos inevitáveis das distorções…
Cerca de 130 milhões de receptores transmitem ao cérebro esses primeiros dados tirados de duas imagens simultâneas da retina, completamente diferentes, em que a fusão contribui, sem aliás ser o único elemento, para provocar a sensação de relevo. São estas impressões feitas ao mesmo tempo de sucessões e de persistências que, agrupadas numa síntese notável, corrigidas pelos hábitos, pelas noções adquiridas, as definições convencionais, contribuirão para a formação da visão humana. O olho, admirável até nos defeitos, é inseparável da inteligência, da sensibilidade, da imaginação que se associam para interpretar os seus dados primitivos. Só nos dá da verdade absoluta, real, concreta, do mundo que nos rodeia, verdades relativas, múltiplas, fugitivas, acomodadas, profundamente subjectivas e diferentes de um observador a outro.
Que parte da verdade científica, geometricamente analisável, poderá subsistir numa tal composição?
Essa imagem Intelectual que conservamos no fundo da memória é a única verdade que nos interessa, e só nos poderá emocionar a imagem que nos recordar ou sugerir a impressão sentida através dos meandros da nossa sensibilidade e da nossa inteligência. É necessário para tal, que a ciência e o engenho se aliem para negar a verdade científica em tudo o que ela tiver de absoluto, para nos restituir a nossa verdade subjectiva, profundamente humana com tudo o que implica de correcções, de aberrações, de convencional…
A visão humana possui no mais elevado grau o dom da selecção: o olho vê muito, observa menos, e retém o essencial…
A visão fotográfica, pelo contrário, tende por natureza a ver tudo, a tudo reter. Esta qualidade, tão preciosa em certos domínios, é preciso ser combatida para se conseguir obra válida. Tudo se limita, na verdade, a atenuar o acessório, a reforçar o essencial, a eliminar o supérfluo, numa palavra, a humanizar a nossa visão fotográfica.
Esse essencial pode porém ser imenso. Pode ser uma ideia de ambiente, de profundidade, de multidão; a objectiva grande-angular e a normal são inultrapassáveis neste domínio. Pode tratar-se também de um pormenor isolado, isento de qualquer floreado acessório; as grandes focais dão-nos aqui soluções mais elegantes do que a ablação à guilhotina de tudo o que ultrapassa o assunto principal, em uma ampliação excessiva.
Mas o jogo de possibilidades atinge o seu máximo de interesse quando o tema que escolhemos implica, não uma selecção em superfície, por corte ou enquadramento, mas pelo contrário uma selecção em profundidade, quando o assunto se torna inseparável da sua ambiência, quando se torna necessário manter o acessório evitando porém que tome o passo sobre o principal.
Permitindo-nos variar o que chamamos vagamente a perspectiva e que não passa da relatividade da representação das massas em presença, fazendo de profundidade de campo que se torna cada vez menor à medida que a focal aumenta um defeito erigido em qualidade, as focais múltiplas abriram largamente a porta a todas as variações possíveis sobre um tema único.
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Adaptado de “Almanaque Português de Fotografia” edição de 1958

1 comentário:

José Fernando Magalhães disse...

Noticiado com o respectivo link no meu modestinho blogue.

Abraço

JM