KAPA
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Em 1991, a saudosa revista K, publicava uma entrevista ao investigador Augusto Mascarenhas Barreto, que me apetece partilhar convosco neste último dia de 2012.
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A meio diz-se assim:
Mascarenhas Barreto: A Comissão
dos Descobrimentos está preocupadíssima com o facto de o meu livro poder
perturbar as relações subservientes e de sujeição em relação aos interesses
espanhóis, italianos e de toda a CEE. E com a característica que têm os
portugueses de há uns anos para cá, de se agacharem sempre, sistematicamente,
puseram-se de gatas perante os estrangeiros. Vêem que os estrangeiros estão a
tornar-se donos do país, mas não se importam, porque têm também as suas
Comissões, têm os seus interesses. E depois, o Portugal que fica é o dos
outros, não lhes interessa nada. Este, é o problema. Sob o aspecto cultural,
passa-se o mesmo.
Estão a fazer o jogo do estrangeiro, permitem ser
insultados. Consentem que digam que nós não sabíamos navegar, que foram os
espanhóis e os italianos que nos ensinaram a fazê-lo. Para eles está tudo bem;
não lhes interessa que digam que o nosso rei D. João II era um ignorante e que
deixou que Colombo fosse para ocidente, por não saber que a terra era redonda,
quando o próprio emblema de D. João II é a esfera armilar (que está hoje
adoptada pelos espanhóis como símbolo da Exposição Universal que eles vão ter
em Sevilha). Os espanhóis é que ainda precisaram de sete anos para ver que o
mundo era redondo... E como curiosidade, é bom saber que os desgraçados dos
arquitectos do pavilhão português dessa Exposição Universal, consideraram
"uma saloiice" a utilização dos símbolos portugueses, a esfera
armilar e a cruz da Ordem de Cristo, no pavilhão de Portugal. São a degradação
da arquitectura simbólica. Mas, evidentemente, essa gente está muito bem
enquadrada na escumalha da Comissão dos
Descobrimentos.
K: Mas, ao não apoiar o sucesso evidente do seu livro pensa que o governo português ou, de forma mais abstracta, "o aparelho de Estado" está a proceder conforme interesses que não são os nossos?
Mascarenhas Barreto: Em relação aos nossos interesses culturais, o Governo não está a fazer absolutamente nada!
K: E o que é que nós podemos fazer para sensibilizar o Governo da República para as questões que o seu livro levanta?
Mascarenhas Barreto: Temos apenas de rezar para que eles sejam honestos, porque o problema da história do Colombo é só um problema de verdade. Ora, estes homens agarraram-se a um dogma fraudulento, e batem-se por ele para manter apenas o "tacho", a posição que adquiriram. Deve ser mesmo o único país do mundo em que os serviços culturais responderam, por carta, ainda há pouco tempo, ao comandante José Martins (um oficial de Marinha que perguntou à SEC por que razão é que não tomavam uma posição em relação ao meu livro), que não tinham ninguém para bem avaliar o meu livro! E, mais, diziam que ficavam à espera que os estrangeiros se manifestassem sobre este assunto.
Tal é a Secretaria de Estado da Cultura deste país!
Portanto, não há nada a fazer, Portugal é uma anedota, e uma anedota trágica,
porque acabou. É um país em que se fazem todos os esforços para que um dia os
nossos filhos e os nossos netos fiquem a engraxar as botas aos estrangeiros.
Eis o programa aparentemente estabelecido.
A
História, em Portugal, constitui a única coisa da qual os portugueses se podem
orgulhar, e até isso estão a conspurcar... É o que me indigna.
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Retirado da Revista Kapa
In K, nº 5, O último
descobrimento, Pedro Ayres de Magalhães, Fevereiro 1991
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