segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

KAPA
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Em 1991, a saudosa revista K, publicava uma entrevista ao investigador Augusto Mascarenhas Barreto, que me apetece partilhar convosco neste último dia de 2012.
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A meio diz-se assim:


Mascarenhas Barreto:  A Comissão dos Descobrimentos está preocupadíssima com o facto de o meu livro poder perturbar as relações subservientes e de sujeição em relação aos interesses espanhóis, italianos e de toda a CEE. E com a característica que têm os portugueses de há uns anos para cá, de se agacharem sempre, sistematicamente, puseram-se de gatas perante os estrangeiros. Vêem que os estrangeiros estão a tornar-se donos do país, mas não se importam, porque têm também as suas Comissões, têm os seus interesses. E depois, o Portugal que fica é o dos outros, não lhes interessa nada. Este, é o problema. Sob o aspecto cultural, passa-se o mesmo. 
Estão a fazer o jogo do estrangeiro, permitem ser insultados. Consentem que digam que nós não sabíamos navegar, que foram os espanhóis e os italianos que nos ensinaram a fazê-lo. Para eles está tudo bem; não lhes interessa que digam que o nosso rei D. João II era um ignorante e que deixou que Colombo fosse para ocidente, por não saber que a terra era redonda, quando o próprio emblema de D. João II é a esfera armilar (que está hoje adoptada pelos espanhóis como símbolo da Exposição Universal que eles vão ter em Sevilha). Os espanhóis é que ainda precisaram de sete anos para ver que o mundo era redondo... E como curiosidade, é bom saber que os desgraçados dos arquitectos do pavilhão português dessa Exposição Universal, consideraram "uma saloiice" a utilização dos símbolos portugueses, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo, no pavilhão de Portugal. São a degradação da arquitectura simbólica. Mas, evidentemente, essa gente está muito bem enquadrada na escumalha da Comissão dos Descobrimentos

K:  Mas, ao não apoiar o sucesso evidente do seu livro pensa que o governo português ou, de forma mais abstracta, "o aparelho de Estado" está a proceder conforme interesses que não são os nossos?

Mascarenhas Barreto:  Em relação aos nossos interesses culturais, o Governo não está a fazer absolutamente nada! 

K:  E o que é que nós podemos fazer para sensibilizar o Governo da República para as questões que o seu livro levanta? 

Mascarenhas Barreto:  Temos apenas de rezar para que eles sejam honestos, porque o problema da história do Colombo é só um problema de verdade. Ora, estes homens agarraram-se a um dogma fraudulento, e batem-se por ele para manter apenas o "tacho", a posição que adquiriram. Deve ser mesmo o único país do mundo em que os serviços culturais responderam, por carta, ainda há pouco tempo, ao comandante José Martins (um oficial de Marinha que perguntou à SEC por que razão é que não tomavam uma posição em relação ao meu livro), que não tinham ninguém para bem avaliar o meu livro! E, mais, diziam que ficavam à espera que os estrangeiros se manifestassem sobre este assunto. 
Tal é a Secretaria de Estado da Cultura deste país! Portanto, não há nada a fazer, Portugal é uma anedota, e uma anedota trágica, porque acabou. É um país em que se fazem todos os esforços para que um dia os nossos filhos e os nossos netos fiquem a engraxar as botas aos estrangeiros. Eis o programa aparentemente estabelecido.  
A História, em Portugal, constitui a única coisa da qual os portugueses se podem orgulhar, e até isso estão a conspurcar... É o que me indigna. 

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Retirado da Revista Kapa
In K, nº 5, O último descobrimento, Pedro Ayres de Magalhães, Fevereiro 1991
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