sábado, 2 de maio de 2020

COMPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA

A capacidade para seleccionar e dispor os elementos de uma fotografia depende em grande parte do ponto de vista do fotógrafo. Na verdade, o lugar onde ele decide colocar-se para realizar um enquadramento constitui uma das suas decisões mais críticas.
Muitas vezes uma alteração, mesmo mínima, do ponto de vista, pode modificar de forma drástica o equilíbrio e a estrutura da fotografia.
Por isso, torna-se indispensável andar de um lado para o outro, aproximar-se e afastar-se da cena, colocar-se num ponto superior ou inferior a ela, a fim de observar o efeito produzido na fotografia por todas essas variações.
A composição nada mais é do que a arte de dispor os elementos, do assunto a ser fotografado, da forma que melhor resolva os nossos objectivos.

"A composição deve ser uma das nossas preocupações constantes, até nos encontrarmos prestes a tirar uma fotografia; e então, devemos dar lugar à sensibilidade"
Henri Cartier-Bresson

Os Planos determinam o distanciamento da câmara em relação ao objecto fotografado, tendo em conta a organização dos elementos dentro do enquadramento realizado.
Os planos dividem-se em três grupos principais (seguindo-se a nomenclatura cinematográfica)
Plano Geral, Plano Médio, e Primeiro Plano. Uma mesma fotografia pode conter vários planos, sendo classificada por aquele que é responsável pelas suas características principais.

· Plano Geral: o ambiente é o elemento primordial. O sujeito é um elemento dominado pela situação geográfica.

· Plano Médio: neste plano, sujeito ou assunto fotografados ocupam uma boa parte do quadro, deixando espaço para outros elementos que deverão completar a informação. Este plano é bastante descritivo, narrando a acção e o sujeito.

· Primeiro Plano: enquadra o sujeito dando destaque ao gesto, à emoção, à fisionomia, podendo também ser um plano de detalhe, onde a textura ganha força e pode ser utilizada na criação de fotografias abstratas. Também é comum utilizarmos a expressão "Segundo Plano" para nos referirmos a assuntos, pessoas ou objetos, que mesmo não estando em destaque ou determinando o sentido da fotografia, têm a sua importância.

As fotografias são bidimensionais: possuem largura e comprimento, e para se conseguir o efeito de profundidade é preciso que uma terceira dimensão seja introduzida: a perspectiva.
Sem dúvida a perspectiva não passa de uma ilusão de ótica. Quando seguramos um livro, mantendo o braço esticado, este objeto dará a impressão de ser tão grande quanto uma casa situada a uma centena de passos. Quanto mais se reduz a distância entre o livro e a casa, mais os objetos se aproximam das suas verdadeiras dimensões. Só quando o livro se encontra num plano idêntico ao da casa, é que o tamanho aparente de cada um deles equivale com exatidão ao real.
Através da perspectiva, linhas rectas e paralelas dão a impressão de convergir, e objectos que encobrem outros parcialmente, dão-nos a sensação de profundidade. E é através do afastamento dos objectos que temos a sensação de estes parecerem menores.

Podemos utilizar a perspectiva para criar impressões subjectivas, e o caso de efeitos de:
"Mergulho" (picado) fotografar com a câmara num ângulo superior ao assunto, diminuindo-o em relação ao espectador;
e
"Contra-mergulho" (contrapicado) a câmara num ângulo inferior ao assunto criando uma sensação de poder, força e grandeza. Cada um destes recursos deverá ser utilizado de acordo com o contexto e o objectivo do fotógrafo.

A maioria dos objetos de uso diário pode ser identificada apenas pelo seu contorno. A silhueta de um vaso, colocado contra a janela, será reconhecida de imediato, porque todos nós já vimos muitos vasos antes. Contudo, o espectador pode apenas tentar adivinhar se ele é liso ou desenhado, ficando com a incerteza até que consiga divisar com clareza a sua forma espacial.
E esta depende da luz.
A luz é indispensável à fotografia. A própria palavra "fotografia", cunhada em 1839 por John Herschel, deriva de dois vocábulos gregos que significam "escrita com luz". A luz cria sombras e altas-luzes, e é isso que revela a forma espacial, o tom, a textura e o desenho.
A fotografia é afectada pela qualidade e direção da luz. Qualidade é o termo que aplicaremos para definir a natureza da fonte emissora de luz. Ela pode ser suave, produzindo sombras ténues, com bordas pouco marcadas (por exemplo, a luz natural num dia nublado); ou dura, produzindo sombras densas, com bordas bem definidas (luz do meio-dia).
A altura e a direcção da luz têm influência decisiva no resultado final da fotografia.
Dependendo da posição da fonte luminosa, o assunto fotografado apresentar-se-á iluminado ou sombreado nesta ou naquela face. A selecção cuidadosa da direcção da luz permite-nos destacar objectos importantes e esconder entre as sombras aqueles que não nos interessam.

· Luz lateral: é a luz que incide lateralmente sobre o objecto ou o assunto fotografado, e se caracteriza por destacar a textura e a profundidade, ao mesmo tempo que determina uma perda de detalhes ao aumentar consideravelmente a longitude das sombras criando muitas vezes imagens confusas.

· Luz directa ou frontal: quando uma cena está iluminada frontalmente, a luz vem por trás do fotógrafo, as sombras escondem-se atrás do assunto fotografado. Este tipo de luz reproduz a maior quantidade de detalhes, anulando a textura e achatando o volume da foto.

· Contraluz: é a luz que vem por trás do assunto convertendo-o em silhueta, perdendo por completo a textura e praticamente todos os detalhes. Denomina-se Tom a transição das altas-luzes (áreas claras) para a sombra (áreas escuras). A gama de cinzas existente entre o preto e o branco. Numa fotografia onde se vê apenas a silhueta de um objecto, recortada contra um fundo branco, não existindo portanto tons de cinza. Esta será uma fotografia em alto-contraste. Uma fotografia que tem apenas alguns tons de cinza predominando o preto e o branco será considerada uma fotografia dura (bem contrastada). Já uma imagem onde predominem os tons de cinza poderá ser considerada uma fotografia suave (pouco contrastada). Existe uma "escala de cinzas" medida em progressão logarítmica, que vai do branco ao preto. Esta escala é de
grande utilidade, podendo-se através dela interferir no resultado final da fotografia.

A textura e a forma espacial estão intimamente relacionadas, entendendo-se como textura a forma espacial de uma superfície. É através da textura que muitas vezes podemos reconhecer o material com o qual foi feito um objecto que aparece na nossa fotografia, ou podemos afirmar que em tal paisagem o campo que aparece é plantado e não de terra. Uma fonte luminosa mais dura, forte e lateral, irá privilegiar mais a textura; enquanto uma luz mais difusa, indireta, suave, poderá fazer desaparecer uma textura ou diminuir a sua intensidade.
A textura pode ser considerada um factor de importância numa fotografia, em virtude de criar uma sensação de relevo, em termos visuais, conferindo uma qualidade palpável à forma plana. Ela permite-nos não só determinar a aparência de um objecto, como nos dá uma ideia da sensação que teríamos em contacto com ele. Podemos, através da luz, acentuar ou eliminar texturas, a ponto de tornar irreconhecíveis objectos do quotidiano.

Linhas e Formas – o “Desenho”.

O desenho pode transformar-se num tema, e introduzir ordem e ritmo a uma fotografia que, sem ele, talvez parecesse caótica. Nos casos onde o seu efeito é muito grande, ele pode dominar a imagem, a ponto de as outras componentes perderem quase por completo a sua importância.
Linhas e formas podem ser usadas para criar imagens abstractas, subjectivas, ou para desviar a atenção do assunto principal de uma fotografia.

Foco e Profundidade de Campo.

Dentro dos limites técnicos, temos possibilidades de controlar não só a localização do foco, como também a quantidade de elementos que ficarão nítidos. Através destes controles, podemos destacar esta ou aquela área dentro de um assunto fotografado. É o foco que vai fazer ressaltar um objecto em detrimento dos outros constantes da foto.

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Um trabalho fotográfico possui vida própria. É, ou deve ser, justificado por si
mesmo. Cada fotógrafo deve estar consciente da acção de fotografar, que além de "captar imagens", é um registo de sua opinião sobre as coisas, sobre o mundo. A sua abordagem sobre qualquer tema define-o e dá-nos a conhecer as suas ideias ou sentimentos.
Há aqueles que só aplicam a técnica fotográfica e outros que a utilizam como meio, extrapolando a sua bidimensionalidade, expandindo-se no tridimensional da informação e da expressão. Cabe-nos adequar a fotografia aos nossos sentimentos, sensibilidade e criatividade.
A fotografia tem linguagem própria e os seus elementos podem ser manipulados pelo estudo e a pesquisa ou pela própria intuição do fotógrafo.
Temos que saber que o equipamento nos permite que a fotografia aconteça com certa precisão, mas estes aparatos são apenas instrumentos que o fotógrafo utiliza dependendo do seu posicionamento, conhecimento e a vivência da realidade que pretende retratar.
O fotógrafo deve utilizar o plano visual com elementos precisos, como se fosse uma "mala de viagem", cuja ocupação requer racionalidade e utilidade dos componentes. É a elaboração criativa destes elementos dentro do quadro visual, que permite a sintetização da ideia na retractação da realidade.

Os elementos da linguagem fotográfica

O estudo dos elementos da linguagem fotográfica interessa não só pela capacidade narrativa desses elementos, como também pelo seu conteúdo dramático. Ocorre com todas as formas de comunicação, e, em particular, com as artes, por terem linguagem própria.
Na fotografia, a linguagem está relacionada às características, aos modos, pelos quais a fotografia existe. Para chegar ao seu objectivo, necessita transpor um complexo processo técnico; e é este processo a base da linguagem fotográfica. A base técnica da realização da fotografia determina os elementos da linguagem.
O estudo da linguagem decorre da necessidade de "dizer" alguma coisa e é
proveniente de um processo de experimentação dos recursos colocados à disposição da fotografia pela técnica.
Evidentemente, todo o avanço técnico enriquece e modifica a linguagem; como exemplo podemos notar pela história, a mudança nos valores dos elementos da linguagem no surgimento da fotografia a cores.
Os recursos elementares da base técnica são os filmes e a câmara.
Cada matriz do filme possui uma imagem gravada de uma realidade exterior, obtida através dos controles que a máquina possibilita.
A superfície do filme tem uma dimensão determinada, sejam eles 135, 120 ou mesmo em chapas de grande formato; o processo fotográfico reduz uma realidade tridimensional a uma imagem bidimensional, as objectivas têm determinadas distâncias focais que modificam esta realidade de diferentes formas. A janela da câmara tem um formato determinado: 24x36 mm., 6x6 cm., 4x5 polegadas. Vemos que, ao fotografar a realidade, a câmara já realiza determinadas transformações do real, convertendo-o numa imagem de dimensões determinadas e sujeita a um certo número de limitações. São estas "limitações" que vão ser elaboradas criativamente como linguagem fotográfica.

Como elementos da linguagem fotográfica temos:

01. Planos – Corte e enquadramento
02. Foco - Foco diferenciado, desfoque, e profundidade de campo
03. Movimento - Em maior e em menor grau, estaticidade
04. Forma - Espaço
05. Ângulo - Posição da máquina
06. Cor - Gradação de cinzas, ou cores
07. Textura - Impressão visual
08. Iluminação – Sombras e luzes
09. Aberrações – Ópticas e/ou químicas
10. Perspectiva – Linhas
11. Equilíbrio e composição – O arranjo visual dos elementos.

Planos

Quanto ao distanciamento da câmara em relação ao objecto fotografado, levando-se em conta a organização dos elementos internos do enquadramento, verifica-se que a distinção entre os planos não é apenas uma diferença formal; cada um possui uma capacidade narrativa, um conteúdo dramático próprio.
É precisamente isso que permite que eles formem uma unidade de linguagem, e a sua significação decorre do uso adequado dos elementos descritivos e/ou dramáticos contidos como possibilidades em cada plano.
Veremos cada um dos planos, usando a nomenclatura cinematográfica para, didacticamente, facilitar as definições dos enquadramentos ajudando ao seu estudo. Os planos dividem-se em três grupos principais:

- Os planos gerais
- Os planos médios
- Os primeiros planos

Grande Plano Geral

O ambiente é o elemento primordial. O sujeito é um elemento dominado pela situação geográfica. Objectivamente a área do quadro é preenchida pelo ambiente deixando uma pequena parcela deste espaço para o sujeito que também o dimensiona. O seu valor descritivo está na importância da localização geográfica do sujeito e o seu valor dramático está no envolvimento, ou esmagamento, do sujeito pelo ambiente. Pode enfatizar a dominação do ambiente sobre o homem ou, simbolicamente, a solidão.

Plano Geral

Neste enquadramento, o ambiente ocupa uma menor parte do quadro: divide assim, o espaço com o sujeito. Existe aqui uma integração entre eles. Tem grande valor descritivo, situa a ação e situa o homem no ambiente em que ocorre a acção. O dramático advém do tipo de relação existente entre o sujeito e o ambiente. O Plano Geral é necessário para localizar o espaço da acção.

Plano Médio

É o enquadramento em que o sujeito preenche o quadro - os pés sobre a linha inferior, e a cabeça encostando no limite superior do quadro, ou o enquadramento cuja linha inferior corte o sujeito na cintura. Como se percebe, os planos não são rigorosamente fixados por enquadramentos exactos.
Eles permitem variações, sendo definidos muito mais pelo equilíbrio entre os elementos do quadro, do que por medidas formais exactas.
Os Planos Médios são bastante descritivos, diferem dos Planos Gerais que narram a situação geográfica, porque descrevem a acção e o sujeito.

Primeiro Plano

Enquadra o sujeito dando destaque ao seu semblante. A sua função principal é registar a emoção da fisionomia. O Primeiro Plano isola o sujeito do ambiente, portanto, "dirige" a atenção do espectador para a figura.

Plano de Detalhe

O Plano de Detalhe isola uma parte do rosto do sujeito. Evidentemente, é um plano de grande impacto pela ampliação que dá a um pormenor que, geralmente, não percebemos com minúcia. Pode chegar a criar formas quase abstractas.

Foco

Dentro dos limites técnicos, temos possibilidades de controlar não só a localização do foco, como também a quantidade de elementos que ficarão nítidos. Além disso, podemos também trabalhar com a falta de foco, ou seja, o desfoque. Podemos enfatizar melhor um elemento da fotografia sobre os demais, selecionando-o como ponto de maior nitidez dentro do quadro. A escolha depende do autor mas a força da mensagem deve muito ao foco. É ele que vai fazer sobressair um certo objecto em detrimento dos outros constantes no enquadramento. A pequena falta de foco de todos os elementos que compõem a imagem pode servir para a suavização dos traços, o contrário acontece quando há total nitidez, que demonstra a rudeza ou brutalidade da realidade.

Movimento

O captar ou não o movimento do sujeito é também uma escolha do fotógrafo. Às vezes, um objecto adquire maior realce quando a sua ação é registada num movimento, ou o movimento é o principal elemento; portanto deve-se captá-lo. Outras vezes, a força maior da acção reside na sua estagnação, na visão estática obtida pelo controle na máquina.

Forma

Forma não é só o contorno; é o modo do objecto ocupar espaço. As possibilidades normais da fotografia, fornecem aspectos bidimensionais da imagem; a forma, enquanto aspecto isolado, pode fornecer a sensação tridimensional. A maneira pela qual a câmara pode fornecer a sensação tridimensional, depende de alguns truques visuais, tais como: a maneira pela qual as imagens são compostas; os efeitos da perspectiva; a relação entre os objectos distantes e objectos próximos.

Ângulo

A câmara pode ser situada tanto à mesma altura do sujeito, como também abaixo ou acima dele. Ao fotografarmos com a máquina de "cima para baixo" (mergulho), ou de "baixo para cima" (contra-mergulho) temos que nos preocupar com a impressão subjectiva causada por esta visão.
A máquina na posição de mergulho, tende a diminuir o sujeito em relação ao
espectador e pode significar derrota, opressão, submissão, fraqueza do sujeito; enquanto o contra-mergulho pode fazer sobressair a sua grandeza, a força, e o seu domínio. Evidentemente estas colocações vão depender do contexto em que forem usadas.

Cor

É a mais imediata evidência da visão. Ela pode propiciar uma maior proximidade da realidade, limitando a imaginação do espectador, o que já não acontece nas fotografias a preto e branco, que nos fornecem, nos meios-tons, a sensação de diferença das cores. A escolha do preto e branco ou do colorido, vai determinar diferentes respostas do espectador, já que as cores também são uma forma de sugerir uma realidade enganosa. A cor pode e deve ser usada desde que sob um cuidadoso controlo estético.

Textura

A textura fornece a ideia de substância, densidade e tacto. A textura pode ser vista isoladamente. A superfície de um objecto pode apresentar textura lisa, porosa ou rugosa, dependendo do ângulo, dos cortes, da luz...
A eliminação da textura na fotografia pode causar impacto, uma vez que é a forma de eliminar aspectos da realidade, distorcendo-a. A textura é um elemento muito importante para a reprodução do real dentro da fotografia, embora possa, também, desvirtuá-la.

Iluminação

A iluminação fornece inúmeras possibilidades ao fotógrafo. Ela está interligada aos outros elementos da linguagem, funcionando de forma decisiva na obtenção do clima desejado, seja de sonho, devaneio, ou de impacto, surpresa e suspense. A iluminação pode enfatizar um elemento, destacando-o dos demais como também pode alterar sua conotação.

Aberrações

As aberrações podem ser causadas quimicamente ou opticamente.
Todas as deformações da imagem, que a técnica fotográfica nos permite usar, têm conotações bastante marcantes. As deformações, causadas nas proporções das formas dos elementos da foto, fogem á realidade causando um forte impacto. Outras aberrações, como a mudança dos tons, ou das cores, pode criar um clima de sonho, de "fora do tempo", de irreal.
Todas estas mudanças da realidade provocadas intencionalmente pelo fotógrafo, têm como objectivo primordial a alteração do clima de realidade e, portanto, devem ser muito bem elaboradas.

Perspectiva

A perspectiva auxilia a indicação da profundidade e da forma, uma vez que cria a ilusão de espaço tridimensional. Ela define-se a partir de um ponto de convergência que centraliza o olhar, ou as linhas principais da fotografia.

Composição e Equilíbrio

Composição é o arranjo visual dos elementos, e o equilíbrio é produzido pela interacção destes componentes visuais.
O equilíbrio não depende dos elementos individuais, mas sim do relativo peso que o fotógrafo dá a cada elemento. Desta maneira, considera-se que o mais importante para o equilíbrio é o interesse que determinará a composição dos outros elementos, tais como: volume, localização, cor, conceito. Como todos os outros elementos, o equilíbrio será conseguido de acordo com os propósitos do fotógrafo, de evocar ou não estabilidade, conforto, harmonia, etc...

A Leitura da Imagem Fotográfica

Escrever sobre fotografia parece paradoxal, mas necessário.
Para podermos saber mais sobre esta linguagem é necessário sabermos quando e porque ela surgiu. Se observarmos a história, se compreendermos, saberemos que não foram um ou dois homens que a inventaram, e sim, que ela surgiu de uma necessidade no início do século passado de se documentar e eternizar certos homens e certas situações de uma classe social.
Parece que a fotografia nasceu como um grifo, isto é, que se fotografava, se valorizava, se perpetuava.
Com o tempo, os fotógrafos de antigamente foram aprendendo e ampliando o uso desta linguagem. As câmaras e materiais foram dando possibilidades da fotografia ir mais longe e falar sobre outras coisas. A imagem fixa foi usada como um fim durante muito tempo. Mas assim que se descobriu que atrás daqueles rostos dos primeiros retratos havia um certo mistério, um querer dizer, a fotografia tomou o seu verdadeiro rumo. Percebeu-se a sua força como uma linguagem universal e intemporal.
Talvez resida aí a dificuldade que sentimos quando desejamos ler uma imagem,
e ficamos perdidos nesta complexidade de linguagem sem regras gramaticais e dependendo da nossa leitura e riqueza da visão que temos do mundo.
Muitas pessoas relacionam o fazer boas fotos ao domínio de uma técnica e
equipamento. Para mim foi mais fácil quando percebi que além deste lado objectivo, percebi o subjetivo e a inter-relação dos dois. O primeiro não é de domínio difícil, já o segundo, depende da cabeça, da vivência, da sensibilidade e o terceiro da criatividade. Está nesta terceira hipótese todo o entendimento dessa linguagem. Quando se percebe que a fotografia é o que significa, passa-se a colocar toda a técnica a serviço da subjetividade.
A nossa postura, hoje, diante da documentação e expressão que a fotografia nos
possibilita sofre a pressão dos conceitos e pré-conceitos sociais. O que é fotografável para si? Pense e repare que é igual ao que os seus avós pensavam e o seu padrão de "beleza" igual ao de todos. Ora, para que serve a fotografia como meio de expressão, se você reproduz o mesmo que os outros, mostrando assim o seu lado massificado e não usando isso como meio de exercício do próprio indivíduo?
A linguagem da imagem é tão complexa como o homem, por isso é atraente e misteriosa. Os seus símbolos e signos modificam a leitura durante os tempos e noutros espaços, a sua falsa estabilidade ganha movimento no seu íntimo.
Ver uma fotografia não é só reviver, é viver, é aprender, é sentir. O objecto fotografia assemelha-se a uma máquina do tempo, ao elo de ligação que me conduz ao encontro de pessoas, ideais e locais. Olho o papel e vejo de uma só vez e com um certo impacto, uma ideia. Sei que aquilo não é a coisa propriamente dita e sim sua representação gráfica mas que me leva ao seu conteúdo através de alguém - o fotógrafo - que se torna o meu mediador. A imagem está lá discutida por nós os três; isto é, a própria imagem, o meu interlocutor (o fotógrafo) e eu (o espectador).
O meu desenvolvimento aumenta e nessa medida cada vez mais surgem significados e leituras.
Na busca do "real" atrevo-me a fotografar, da mesma forma que levou Daguerre a largar os seus pincéis e começar a usar uma máquina fotográfica. Fotografo o que acredito ser real, e esta ideia atrapalha-me dentro de uma filosofia dualista que aprendemos, do é ou não é, do bem e do mal, etc.... De repente a fotografia mostra o terceiro lado: o do pode ser...
A imagem está aí para ser retratada, lida, consumida, sempre ao serviço de uma ideia. O que é necessário é deixar que com mais crítica e posicionamento possa ter a liberdade de ir e vir não só no espaço, mas também no tempo.

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