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"... A Europa não presta para nada,
a Europa não se entende, porque está a querer fazer uma coisa nova com uma
trapalhada velha... São aqueles estados centralistas do Luís XI, e aquela coisa
toda... O que se deve é chegar a outra coisa muito importante: à liberdade
cultural de cada homem! Já não se trata de esta região ou aquela ser desta ou
daquela maneira: trata-se de ser à sua maneira cada pessoa! Temos de levar o
mundo a um tal tipo de organização que permita a identidade cultural de cada
homem, sem sofrer nenhuma espécie de atropelo. A liberdade cultural do Minho,
ou da Catalunha, ou da Andaluzia, ou de qualquer coisa dessas, é apenas um
degrau para passarmos ao último andar da casa, que é cada homem ter a sua plena
liberdade cultural! Como se costuma dizer, fazer aquilo que lhe der na cabeça,
ou no coração, ou nos pés, se preferir andar. Rumar exactamente como quiser
rumar; e o mundo estar organizado de tal maneira que daí não resulte o caos,
mas uma nova espécie de cosmos, isto é uma espécie de nova ordem. Que resulte
um mundo que continue a ser mundo. As pessoas não se lembram que
"mundo" é a palavra contrária de "imundo". O Camões usa o
adjectivo "as mundas almas", as almas puras que estão no céu,
"as mundas almas"... Mundo é um adjectivo, é o contrário de imundo.
Nós não queremos um mundo imundo, queremos conservar o mundo cada vez mais
mundo, cada vez mais puro... É preciso que cada pessoa seja cada vez mais pura.
E o que é ser cada vez mais puro? É ser cada vez mais ele."
- Agostinho
da Silva, numa conversa com Gil de Carvalho e Manuel Hermínio publicada em
"Ir à Índia sem abandonar Portugal" in "Ir à Índia sem Abandonar
Portugal, Considerações e Outros Textos", Assírio & Alvim, 1994, p. 44
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