sábado, 18 de julho de 2009

MANIFESTO - 1987

Dos arquivos da Galeria MANIFESTO, fui desencantar um texto que Carlos Marinho apresentou sobre o trabalho de Isabel Padrão
. Foto: FERNANDA GONÇALVES
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Isabel Padrão não desenha ou pinta. Conta histórias com matéria (de matéria). Manipula-a como se manipulam os ingredientes de uma receita para que tomem a consistência de massa e a massa para que fique bolo. O ornamento exige o corpo e o corpo a ornamentação. O bolo só está completo com a decoração de creme. A cabeça com os lábios pintados. A mão não é o instrumento de conhecimento mas o pretexto para o anel e o anel, o instrumento de conhecimento. As situações invertem-se. O homem que figura nos quadros de Isabel Padrão está longe de ser o homem que pensa. Também não é o homem que sente ou o homem que observa. É o homem que está. O homem corpo-objecto que passeia pelos quadros como o anel pelos dedos. O homem entre o animal e o manequim, ornamental e ornamentado. Que come. Que veste. Que defeca. Que exibe. Que se vem. Que olha sobretudo. Que fixa o observador e não pergunta (é-lhe tão estranha a pergunta como qualquer resposta lhe seria incompreensível). Um homem à semelhança já não de um deus mas de um colar ou um chapéu ou um baton. O homem afinal! Murcho galardão, inerte manequim de alfaiate e com o senão de ter mau hálito e cheirar a suor, o estafermo.
Carlos Marinho
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1 comentário:

Isabel Padrão disse...
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